A Executiva do SINDTAE vem a público manifestar seu repúdio aos ataques violentos, descabidos, mentirosos e contaminados de elementos que remetem a um discurso de ódio contra professores dos cursos de Medicina e Enfermagem da UFFS, e consequentemente a instituição como um todo. Proferida pelo prefeito de Chapecó - SC através de suas redes sociais na data de 18/05/2022, a fala pode ser enquadrada também como um caso típico de ataque direto à democracia, quando tripudia de posicionamentos políticos legítimos de serem exercidos por qualquer cidadão.
Utilizando de modo torpe de sua relevância enquanto figura pública, desvirtua a abordagem de um assunto sério, que enseja um debate que deveria ser qualificado com a participação de diversos atores da sociedade, cuja autoridade técnica deve ser multiprofissional e preocupada em trazer alternativas à estratégia adotada pelo prefeito, a internação involuntária de usuários de substâncias psicoativas.
Tal como um reflexo do modo de atuação do governo federal, ao qual se diz ser extremamente alinhado, o prefeito utiliza em sua fala argumentos demonstrativos de um caráter autoritário, sendo exemplificado pela utilização de termos como “Doutores… tirem a bunda da cadeira”, já no título de seu vídeo, e na legenda “aqueles que ficaram parados dois anos recebendo altos salários, agora querem atrapalhar”. O baixíssimo nível da fala continua ao longo de todo o vídeo, em que o linguajar chulo e violento utilizados desqualificam qualquer argumentação que poderia ser válida.
Mente descarada e deslavadamente quando diz que por 2 anos os docentes não deram aulas, quando na realidade a UFFS se manteve ativa, tendo apenas um período inicial de adaptação às atividades remotas, para garantir a saúde e a vida da comunidade acadêmica e da sociedade em seu entorno. De parte da universidade, desde o início do período pandêmico houve doação volumosa de materiais, empréstimo de equipamentos, prestação de serviços pelos docentes, técnicos e acadêmicos durante períodos excruciantes gerados pela situação de pandemia.
Aliás, sobre os dois cursos diretamente atacados, Enfermagem e Medicina, seguiram fazendo importantes pesquisas, inclusive sobre COVID, e os professores que ele cita sempre se dedicaram pelo bem do próximo, com muitas atividades voltadas aos mais vulneráveis. Por exemplo, são diversos os relatos de docentes saindo de madrugada das unidades de saúde, após acompanhar estudantes em serviço nos estágios ou auxiliando no atendimento à população. Há registros fotográficos na linha de frente do combate à Covid-19 de um dos docentes diretamente atacados pelo prefeito. Nela havia ainda outros colegas da Enfermagem. A UFFS sempre esteve comprometida institucionalmente com toda a estrutura de combate à pandemia e promoção da saúde, assim como estiveram pessoalmente os profissionais, agora atacados pelo prefeito, envolvidos diretamente na linha de frente se expondo a riscos e contribuindo nas atividades que, a rigor, são de responsabilidade da Prefeitura Municipal. Ou seja, enquanto a UFFS como um todo se organizava internamente seguindo os protocolos sanitários e trabalhando muito para contornar os problemas metodológicos advindos do desafio de lecionar por meio do ensino remoto, os colegas da saúde, agora acusados injustamente de não trabalharem por dois anos, com seu altruísmo e coragem, arriscaram suas vidas no atendimento aos cidadãos chapecoenses contaminados.
Repudiamos igualmente tanto o tom quanto o teor de sua fala, perigosos na medida em que incitam reações exacerbadas contra uma universidade pública e seus docentes. Considerando o alcance que traz uma postagem dessas, ao tentar mobilizar um ânimo mais exaltado em sua audiência, expondo de forma virulenta o nome e imagem de servidores, atacando sua honra e dignidade apenas no intuito de jogar parte significativa da sociedade contra a UFFS e o que ela representa, o senhor prefeito incorre no risco de provocar até mesmo ataques físicos contra essas pessoas. Além é claro dos prejuízos a imagem institucional da UFFS e do serviço público como um todo. Essa postura e atitude são claramente contrárias ao que se espera de um representante político que possua ao menos um mínimo de dignidade em suas manifestações.
Além do mais, ao utilizar chavões como “esquerdistas”, “posição ideológica do elemento”, “só pode ser de esquerda” ou “malditos”, aparentemente podemos fazer a leitura de que o prefeito não pretende atacar tão somente a UFFS na figura de seus docentes e servidores, mas também a toda e qualquer pessoa que minimamente procure exercer seu direito constitucional de pensar diferente ao que ele apregoa. Aqui também se configura uma incitação ao ódio contra aqueles que não estejam alinhados ao que representa seu projeto de poder e de sociedade. Basta um passar de olhos pelos comentários da postagem para perceber o quão prejudicial isso é para todos, pois interdita o diálogo e a construção conjunta de uma sociedade mais plural e democrática.
O nosso assombro com a forma utilizada para atacar diretamente os docentes, cursos e a UFFS nos induz a tentar compreender o que poderia motivar esse tipo de reação ao mero questionamento de uma política pública. Seria esse tipo de ataque a explicitação de um aspecto, pouco percebido, da importância da existência de campi de IFES públicas no interior do país? A constituição de um conjunto de servidores públicos, muitos dos quais vindos de outras regiões e, portanto, sem nenhuma relação de “dependência” com poderosos locais, não poderia se constituir em um centro de denúncia e de enfrentamento aos interesses daqueles que comandam como bem entendem as políticas municipais e regionais? Seria esse o caso do que estamos vivendo em Chapecó, onde os colegas da Medicina e da Enfermagem tem atuado fortemente na saúde pública, enfrentando e questionando o que pode ser entendido como desmandos ou equívocos na condução das políticas públicas? Esse seria o caso também de muitos colegas de outras áreas, como licenciaturas e de outros cursos, tanto em aqui e como em outros campi de atuação de IFES públicas no interior do país? Seria essa fúria uma reação a um enfrentamento ao qual os ditos poderosos locais não estavam acostumados? Realidade ou não, no mínimo são questões que surgem da tentativa de compreender as razões desse e outros tipos de ataques.
Como representantes dos técnicos-administrativos em educação da UFFS reiteramos que a categoria defende os princípios que originaram a criação dessa instituição, constituídos na luta dos movimentos sociais em busca de uma universidade pública, popular e de qualidade para todos. Nessa defesa preferimos utilizar argumentos embasados na ciência, na dialogicidade e solidariedade entre os diferentes. Portanto não coadunamos com esses discursos armados com elementos de “ódio” ou “repulsa ao outro”, pois entendemos que eles só reverberam em ambientes similares, que é justamente o contrário do que é sabidamente necessário para avançarmos enquanto cidadãos.
Assim como o SINDUFFS, o SINDTAE também reivindica que os órgãos dirigentes da Universidade – Conselho Universitário, Conselho de Campus, Reitoria e Direção de Campus – manifestem seu repúdio ao ocorrido e acionem as medidas cabíveis para proteger a imagem da UFFS e de seus profissionais. É obrigatória uma retratação pública de modo a tentar dirimir os prejuízos institucionais, mesmo sabendo que muitos dos danos já são irrecuperáveis.
Nos colocamos junto na reação coletiva dos servidores e estudantes neste momento, para através de nossa participação e engajamento demonstrarmos que Adriana, Anderson, Felipe, Graziela, Marcela e demais colegas atacados agora não estão sozinhos, pois somos solidários a sua atuação em defesa de uma sociedade mais justa para todos.
Temos consciência de que o senhor prefeito e seus seguidores passarão, assim como todos nós, mas a UFFS e os ideais que ela representa permanecerão. O que vier envenenado de ódio não prosperará por aqui. Por isso finalizamos lembrando um pensamento de Paulo Freire que elucida muito nosso posicionamento: “a educação é um ato de amor, por isso, um ato de coragem. Não pode temer o debate. A análise da realidade. Não pode fugir à discussão criadora, sob pena de ser uma farsa.”